domingo, 4 de março de 2012

A Era Digital de Protestos e o Cibercidadão

Inaugurando o ano que já está no terceiro mês, mais uma das minhas ideias nem sempre muito convencionais em forma de texto ;)


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A era digital é cheia de novidades. Em se tratando de tecnologia recente, não é surpresa descobrir algo novo cada vez que ligo o computador. E quando vem o inevitável sentimento do adulto neo-obsoleto, que tem uma conta no Facebook, no Twitter e no MySpace, mas que não entende a metade do que eles oferecem (ou que não concorda com alguns excessos), eu repenso a real utilidade de tudo isso no meu cotidiano.
A ferramenta “compartilhar” do Facebook é bem legal, pois é possível dividir ideias e opiniões com todos os amigos, que poderão fazer isso também com os seus, se quiserem. Só que o conceito de interessante é bem pessoal, e o que acabo vendo nos compartilhamentos são listas infinitas de temas, comentários e imagens sem conteúdo algum.
Não espero que tudo o que circula na internet possua significado moral, mas fato é que a opinião pública diante de acontecimentos urbanos como o resultado do futebol, os crimes contra animais, a corrupção política brasileira ou as questões de gênero: tudo está carregado com o deboche latino-americano, irônico ou conformista, que muito pouco ou nada tem se comprometido em melhorar o mundo real. É quase como assumir naturalmente não haver solução e ser um expectador acomodado diante da própria realidade. Será que há valor em manifestos de indignação pública postados através de correntes “ctrl+c e ctrl+v” no perfil do Facebook? Eu penso nisto porque a ideia implícita destas ações é de que se está praticado cidadania. Uma sensação positiva circula, de que as pessoas não estão caladas diante dos acontecimentos, mas na verdade, não parece muito melhor do que se estivessem em silêncio. A cidadania cibernética que temos hoje está longe do que idealizamos; ela é apenas uma manifestação digital restrita que não busca mudar em nada a vida das pessoas; mais uma distração contemporânea, cujo principal objetivo é o de postar informações em sequência, sem refletir muito porque já tem outro acontecimento novo saindo do forno. E desse modo, atônitos no meio de tantas informações e seguros no conforto de nossas casas, não fazemos nada além de postar que estamos agindo.
Não nos vemos mais fora das redes sociais, pois elas têm um propósito eficaz: conectar as pessoas. Também não queremos isto. Postar a indignação com o mundo real? Claro que sim, também é possível torná-la pública. Mas seria excelente se funcionasse. Se as pessoas deixassem de comprar um produto ao descobrirem ser fabricado usando mão de obra escrava (ou semiescrava). Ou, ao perceberem que seu jogador-herói de futebol tem por hábito agredir mulheres, deixassem de torcer e de consumir os produtos que ele vende. Utópico? Talvez seja. Poderia citar muitos outros exemplos, mas estes parecem suficientes para convencer qualquer um de que não estamos fazendo nada além de passar adiante nossas mensagens de texto ou apresentações de Power Point. Esta é a nossa realidade. Demos à rede o lugar que antes pertencia à praça principal onde ocorriam as manifestações públicas, sem pose para foto, onde a vida já foi mais pessoal, mais física e bem mais real.

3 comentários:

  1. Amiga...
    Não vou comentar o conteúdo do teu texto porque ele decerto mereceria muitas linhas para os tantos aspectos interessantes que vc mencionou dentro de um tema tão vasto e atual. De todo modo, faço questão de te parabenizar pelo quanto ele está bem escrito! Excelente! Escreva sempre assim! Com essa qualidade, vc vai longe!
    GK

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    1. Olá! Legal que gostou, a ideia é mesmo pensar sobre ser cidadãos numa era digital que promove ainda mais o individualismo e o descomprometimento! O importante é pensar um pouco sobre o assunto!
      Grande abraço, Rose.

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  2. Somos todos condizentes coniventes convivendo em comunhão como pseudo-descontentes.
    GK

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